quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Como não escrever sobre o que vi, sobre o que foi testemunhado não só por mim na noite de uma quinta-feira fria, na penumbra de um prédio em ruínas? A umidade, o ar rarefeito, os ecos... tudo fazia parte do cenário, tudo se encaixava na história da série de assassinatos.A história da chacina, aliás, é sempre a mesma, e se repete desde os tempos de Shakespeare: Ofélia amava Hamlet, que matou Polônio por engano, que não amava ninguém. Cláudio matou Hamlet (o pai), casou-se com a cunhada rainha e virou rei. Hamlet queria vingança. Laertes (irmão de Ofélia e filho de Polônio) também. Os dois caem em uma armadilha e todos os personagens do núcleo morrem no final.Mas a história que foi contada nesta noite, particularmente, tinha um elemento a mais: Tinha energia, certa brasilidade. A negritude adicionou cores à palidez clássica do drama inglês.E foi em ritmo de batuque, samba de breque e hip hop que o sincretismo de Hamlet se fez. Belo, melancólico, mas com um quê de tragicômico. Hamlet mostrou que como todo brasileiro também consegue rir da própria desgraça.Além de todas as associações com as crenças de matriz africana, não faltaram outras referências bastante contemporâneas para enriquecer ainda mais a trama, e conferir ao espetáculo atualidade e humor, misturando gírias com o linguajar clássico, elementos antigos e modernos, como o celular.Não faltaram trechos famosos dos monólogos: O “ser ou não ser” estava lá, assim como a “vã filosofia”. Mas tudo isso temperado com as nossas próprias questões culturais sociais.Foi cômico ver, por exemplo, Ofélia cantando My first love para Hamlet. E o que fazia um curioso cartão da Hello Kity entre as cartas de amor da romântica personagem? Um duelo ao estilo Matrix? Agentes, digo, seguranças do rei, que pareciam ter sido importados junto com algum enlatado americano? E o look de turista de Horácio, com direito a camisa florida, meias esticadas e câmera fotográfica? E a mudança de comportamento de Ofélia quando se converte à religião evangélica? Aleluia irmãos!Sim, os suicidas merecem clemência, e a tem ao menos de quem cava sua cova. Acima da terra ou abaixo de sete palmos faz sentido que matar-se às vezes (ou sempre) é em legítima defesa. HahahaDe holofotes a velas e até lanternas, tudo era luz que emanava também do brilho de excelentes interpretações do elenco para romper a penumbra.Só contei o que vi, porque o resto... o resto é silêncio. Horácio pode mostrar as fotos.
27 de Junho de 2008 00:09

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